Quem observa de fora, vê apenas raquetes coloridas, música alta e gente suada correndo atrás de uma bolinha laranja. Mas quem pisa na areia pela primeira vez e fica para o “pós-jogo”, entende que o buraco é mais embaixo.
O beach tennis, em 2025, deixou de ser apenas uma modalidade esportiva para se tornar um dos maiores fenômenos sociológicos do Brasil recente.
Ele preencheu uma lacuna que a vida moderna nas grandes cidades abriu: a falta de pertencimento e de conexão real, olho no olho.
Como praticante que já rodou de arenas de bairro a grandes complexos de luxo, posso afirmar: a gente vai pelo cardio, mas fica pela comunidade.
O beach tennis recriou o conceito de “praça pública” ou de “clube social”, mas com uma dinâmica muito mais acelerada, democrática e, surpreendentemente, lucrativa para quem sabe navegar nesse meio.
A Arena como o Novo Clube Social do Século XXI
Navegue por aqui
- A Arena como o Novo Clube Social do Século XXI
- Networking na Areia: Por que o Beach Tennis é o “Novo Golfe”?
- A Psicologia da Dupla: Conexão e Parceria
- Inclusão e Diversidade: A Cola da Comunidade
- O “Lifestyle” Beach Tenista: Pertencimento Visual
- O Calendário Social: Muito Além do Treino
- Beach Tennis e Saúde Mental: A Terapia da Areia
- Perguntas Frequentes sobre a Comunidade do Beach Tennis
- Conclusão
- Assuntos do seu interesse

Antigamente, para ter uma vida social esportiva, você precisava ser sócio de um clube tradicional, pagar uma joia (título) caríssima e frequentar aquele ambiente muitas vezes rígido. O beach tennis democratizou isso através das Arenas.
O modelo de negócio das arenas foi desenhado para a socialização. Diferente de uma quadra de tênis convencional, onde você joga e vai embora, a arquitetura da arena de beach tennis é “centrípeta”: tudo converge para a área de convivência.
- O Lounge: É o coração da arena. Mesas, cadeiras de praia, bar e música. É onde quem está esperando a vez (no sistema de raqueteira/rodízio) é obrigado a interagir.
- Abertura: Você não precisa conhecer ninguém para começar. O sistema de “Day Use” permite que você chegue sozinho, coloque sua raquete na fila e jogue com estranhos. Em 20 minutos, esses estranhos viram parceiros. Em duas semanas, viram amigos.
Essa facilidade de acesso criou comunidades hiper-locais. Cada bairro tem sua “turma da manhã”, “turma do almoço” e “turma da noite”. E essas tribos são extremamente fiéis.
Networking na Areia: Por que o Beach Tennis é o “Novo Golfe”?
Essa frase virou clichê, mas é a mais pura verdade. O golfe sempre foi o esporte dos negócios porque permitia caminhar e conversar por horas. O beach tennis assumiu esse posto no Brasil por motivos diferentes, mas com resultados iguais ou superiores.
A Quebra de Hierarquia Corporativa

A areia é o grande equalizador. Quando você tira o sapato social e coloca o pé no chão, e troca o terno por uma roupa de dry-fit, os crachás desaparecem.
Na quadra, o CEO de uma multinacional pode ter como parceiro um estagiário que tem uma “mão” boa na rede. E se o estagiário jogar melhor, ele lidera a dupla. Essa inversão de papéis gera uma vulnerabilidade e uma confiança que levariam meses para serem construídas numa sala de reunião.
- Confiança Rápida: O esporte revela o caráter. Você vê quem rouba ponto, quem é honesto na dúvida, quem lida bem com a pressão e quem surta quando está perdendo. Para um recrutador ou investidor, isso é um raio-x de personalidade instantâneo.
Negócios fechados entre um set e outro
A dinâmica do jogo permite intervalos constantes. É na virada de lado ou no açaí pós-jogo que o networking acontece de forma orgânica. Não é aquela troca de cartão forçada de eventos corporativos. A conversa flui: “O que você faz da vida?” surge naturalmente depois de “Belo saque!”.
Em 2025, vejo construtoras, bancos de investimento e marcas de luxo patrocinando arenas não só pela exposição da marca, mas para ter acesso a esse ecossistema de relacionamento qualificado.
A Psicologia da Dupla: Conexão e Parceria
O beach tennis é, essencialmente, um esporte de duplas. O jogo de simples (individual) existe, mas representa uma fração minúscula da prática. Isso muda tudo.
Você depende do outro. Se o seu parceiro erra, você não pode afundá-lo, ou os dois perdem. Você precisa levantar a moral dele. Esse exercício constante de empatia e suporte mútuo cria laços muito fortes.
A rotação de parceiros
Nos treinos e no “play” recreativo, é comum rodar as duplas. “Quem ganha fica e separa”, “Sobe e desce quadra”.
- Expansão da rede: Em uma noite, você joga com 10, 15 pessoas diferentes.
- Adaptação social: Você aprende a lidar com diferentes personalidades. O parceiro rabugento, o parceiro que vibra muito, o tímido. Essa inteligência emocional social é treinada a cada set.
Inclusão e Diversidade: A Cola da Comunidade
Poucos esportes conseguem misturar perfis tão distintos na mesma partida sem que o jogo fique chato. No futebol, um idoso dificilmente joga com um jovem de 20 anos em pé de igualdade. No beach tennis, a técnica supera o físico muitas vezes.
Um ambiente intergeracional
É comum ver avós jogando com netos, ou casais jogando duplas mistas. A arena virou um ambiente familiar seguro. Enquanto os pais jogam, as crianças ficam na “kids area” ou começam a dar as primeiras raquetadas na quadra lateral. Isso mantém a família inteira dentro da comunidade, aumentando a frequência e o engajamento.
A força feminina
O beach tennis talvez seja o esporte com maior paridade de gênero na prática amadora no Brasil. As mulheres ocuparam as arenas com força total. Isso transformou o ambiente, tornando-o menos hostil e “macho-alfa” (comum em futebol society) e mais focado em bem-estar e socialização. Os torneios femininos, como as categorias “Rainha da Praia”, costumam ter as chaves lotadas primeiro, mostrando o poder de mobilização dessa comunidade.
O “Lifestyle” Beach Tenista: Pertencimento Visual
A comunidade se identifica visualmente. Existe um código de vestimenta e comportamento que gera pertencimento.
Quando você vê alguém no aeroporto com uma raqueteira nas costas, você já sabe que aquela pessoa “é da tribo”. O uso de marcas específicas (roupas coloridas, óculos espelhados, viseiras) funciona como um uniforme não oficial.
- Consumo Identitário: Comprar a raquete do momento ou a roupa da coleção nova não é só sobre performance; é sobre sinalizar para o grupo que você está engajado, que você faz parte. Isso movimenta um mercado gigantesco de moda e acessórios.
O Calendário Social: Muito Além do Treino
Se o treino durante a semana é para a técnica, o final de semana é para a celebração. A comunidade do beach tennis criou formatos de eventos que são verdadeiras máquinas de engajamento. Diferente de um campeonato oficial da ITF, onde se você perde vai embora, os eventos sociais são desenhados para você ficar na arena o dia todo.
O Fenômeno “Rei e Rainha da Praia”
Esse é o formato mais divertido e democrático que existe.
- Como funciona: Você se inscreve individualmente, não com parceiro fixo. A cada rodada, você joga com uma dupla diferente e contra adversários diferentes.
- O efeito social: Você é obrigado a jogar com todo mundo da sua categoria. Isso quebra panelinhas. Aquele jogador tímido acaba fazendo dupla com o mais extrovertido. No final, quem soma mais pontos individualmente é coroado. É o evento perfeito para quem acabou de chegar na arena e quer conhecer gente.
Team Cups: A Nossa “Copa do Mundo” Particular
Se o “Rei da Praia” integra, a “Team Cup” (Copa por Equipes) incendeia. As arenas dividem os alunos em times (Time Azul vs. Time Vermelho, ou nomes criativos).
- Pertencimento: As pessoas mandam fazer uniformes, criam gritos de guerra, levam bandeiras.
- O clima: É barulhento e vibrante. Mesmo quem não está jogando fica na beira da quadra torcendo pelo seu time. A pressão de jogar pela equipe cria laços de lealdade fortíssimos. É comum ver pessoas que mal se falavam virarem melhores amigos depois de ganharem um título de Team Cup juntos.
Clínicas e Beach Camps: Viajar para Jogar
O turismo de beach tennis é a cereja do bolo da comunidade. Grupos de 20, 30 pessoas fecham pacotes para resorts no Nordeste ou viagens internacionais.
- Imersão: Você passa 4 dias respirando o esporte. Treina de manhã, joga à tarde e janta com a turma à noite.
- Vínculo: A convivência 24h acelera a intimidade. Viagens de beach tennis são famosas por formar casais e sociedades de negócios.
Beach Tennis e Saúde Mental: A Terapia da Areia
Não sou psicólogo, mas como praticante, vejo o efeito terapêutico na prática. Em um mundo pós-pandemia, onde a ansiedade e a solidão urbana explodiram, o beach tennis virou um santuário.
O Combate à Solidão Urbana
Sociólogos falam sobre o “Terceiro Lugar” (o primeiro é a casa, o segundo é o trabalho). O beach tennis ocupou esse espaço do “terceiro lugar” que antigamente eram as praças ou igrejas.
Muita gente que trabalha em Home Office passa o dia inteiro sem ver um ser humano real. A ida à arena à noite é o momento de reconexão. Saber que você vai chegar lá e alguém vai gritar seu nome, perguntar como você está e te chamar para o jogo, é um antídoto poderoso contra a depressão e o isolamento.
Dopamina e Descompressão
A combinação é química pura: exercício físico (endorfina) + aprendizado de nova habilidade (dopamina) + sol e ar livre (serotonina).
O foco na bolinha é uma forma de meditação ativa (mindfulness). Durante aquela hora de jogo, os problemas do boleto, do chefe ou da família desaparecem porque seu cérebro está ocupado demais calculando a trajetória da bola e o vento. Essa “descompressão” mental é o que faz as pessoas dizerem: “Isso aqui salvou meu ano”.
Perguntas Frequentes sobre a Comunidade do Beach Tennis
Como o beach tennis ajuda no networking?
Quebrando hierarquias. Na quadra, todos são iguais, o que facilita conversas informais que evoluem naturalmente para negócios no ambiente relaxado do pós-jogo.
O ambiente é receptivo para quem vai sozinho?
Sim. O sistema de “Day Use” e rotatividade de raquetes nas arenas é desenhado para incluir quem chega sem parceiro, integrando-o aos jogos rapidamente.
Beach tennis é bom para ansiedade?
Excelente. A exigência de foco total na bola funciona como meditação ativa, interrompendo ciclos de pensamentos ansiosos, além de liberar hormônios de bem-estar.
Existem eventos para quem não quer competir sério?
Sim. Eventos como “Rei da Praia”, “Americano” e “Play Day” focam na diversão e troca de parceiros, sem a pressão de eliminação dos torneios oficiais.
Por que o beach tennis vicia tanto?
Pela rápida curva de aprendizado (recompensa imediata) somada ao forte senso de pertencimento a uma tribo acolhedora e divertida.
É comum fechar negócios na arena?
Muito comum. Setores como imobiliário, financeiro e serviços médicos usam as arenas como polos de prospecção devido ao perfil socioeconômico dos praticantes.
Conclusão
A comunidade do beach tennis é o grande segredo do sucesso estrondoso do esporte. Mais do que voleios e smashes, o que prende as pessoas na areia é a sensação de fazer parte de algo vivo, pulsante e acolhedor.
Em um mundo cada vez mais digital e solitário, o beach tennis nos devolveu o prazer analógico do encontro, do suor compartilhado e da amizade construída ponto a ponto. Se você procura não apenas um esporte, mas uma tribo para chamar de sua, a areia está te esperando.
Assuntos do seu interesse
É possível viver do beach tennis?
Organização de torneios amadores de beach tennis










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